Saúde e Bem-Estar passam a fazer parte da Agenda Estratégica dos CEOs

Saúde e Bem-Estar passam a fazer parte da Agenda Estratégica dos CEOs

CEOs começam a se envolver mais com projetos de Bem-Estar

Cuidar da saúde física e mental dos funcionários também passou a ser tarefa da alta liderança

Antes considerados disponíveis apenas para aprovar projetos desenhados pela área de recursos humanos, os CEOs estão se apropriando das diretrizes de bem-estar da força de trabalho. Uma pesquisa realizada este ano pela consultoria Deloitte nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália com 2,1 mil executivos, sendo a metade do C-level, indica que a tarefa de cuidar da saúde física e mental dos funcionários, por conta dos impactos da pandemia, não deve partir apenas dos departamentos de pessoal: precisa vir do topo das organizações.

De acordo com o levantamento, finalizado em fevereiro, 96% do alto escalão já se sentem responsáveis por ações de cuidado com os empregados, e 83% dizem que se tornarão, em um ou dois anos, ainda mais ativos nessa frente. O estudo também mostra que executivos que praticam atividades relacionadas ao equilíbrio físico e mental podem ter um impacto significativo na cultura das empresas, sendo capazes de apontar, com mais facilidade, novas maneiras de liderar equipes em uma agenda sobre o tema. Do conjunto pesquisado, 74% das chefias fazem algum tipo de exercício físico frequente.

Mas há chão pela frente: 68% dos gestores admitem que não estão disparando medidas suficientes para reforçar o bem-estar dos quadros e apenas 53% dos funcionários afirmam que seus líderes tomaram as melhores decisões sobre o assunto, desde que a crise sanitária começou.

Para ajudar a disseminar uma estratégia completa de bem-estar, a primeira coisa que um CEO deve fazer é entender que projetos da empresa vão além da cesta de benefícios, aconselha Luiz Barosa, sócio da consultoria de capital humano da Deloitte no Brasil. “É importante que o C-level se posicione não só via comunicados, mas em atitudes, incluindo o exemplo pessoal”, afirma. “As demais gerências e a força de trabalho costumam mimetizar comportamentos da alta liderança.”

Na SAP, empresa do mercado de software com 2,8 mil funcionários no país, a presidente da operação no Brasil, Adriana Aroulho, vestiu a camisa das pautas de equilíbrio no ambiente profissional. “Faz parte da minha agenda participar de rodas de conversa e ações sobre a temática, porque acredito que isso desmistifica o assunto, derruba tabus”, diz a e diz a executiva, na empresa desde 2017. “A companhia tinha um foco nessa questão antes da pandemia, o que nos ajuda muito agora.”

Em 2019, o Brasil integrou um projeto piloto global da multinacional alemã, de atenção à saúde mental e bem-estar. Batizado de “Mental health matters” (saúde mental importa), envolveu o treinamento de lideranças, mindfulness e apoio psicológico por telefone, conta Aroulho. Em 2020, ganhou bate-papos, palestras e encontros com psicólogos. “Foram esforços extras para auxiliar os funcionários a lidar com o estresse da pandemia e do isolamento social”. Mais de 75% dos empregados participaram de alguma ação, segundo a executiva, que sempre foi adepta de exercícios físicos.

Aroulho fez balé dos quatro anos até a universidade. Hoje, uma das suas rotinas preferidas é o boxe, acompanhado de ginástica funcional, alongamento, ioga e pilates. Nos finais de semana, trilhas e pedaladas com a família entram na programação. Qualquer prática que requer comprometimento se reflete no trabalho, avalia. “Essas atividades me ajudaram no aumento da disciplina, em projetos em equipe, foco e companheirismo. A sensação de bem-estar te acompanha ao longo do dia.”

Em 2021, para estimular os empregados a dedicarem mais atenção a corpo e mente, a SAP criou o “Mental health day” (Dia da saúde mental), um dia de folga para todos os escritórios no mundo. “Este ano, a data foi 31 de maio e praticamente todos os colaboradores no Brasil aderiram – eu inclusive”, diz “Programamos o benefício para uma terça-feira, a fim de incentivar a segunda livre também.”

A presidente lembra que um dos gatilhos para criar o expediente “off” foi o resultado de uma pesquisa, realizada no começo de 2021, que apontou que um terço dos funcionários no Brasil (933) apresentava sinais de estresse. “Não é que um dia sem trabalho vai resolver a questão, [o que vale] é a importância que a empresa dá à mensagem.”

A operação brasileira da SAP usa um índice, conhecido como Business Health Culture Index, que mede aspectos da cultura corporativa, como bem-estar, condições de trabalho e ações da liderança. O indicador, diz Aroulho, passou de 78% em 2018, quando a companhia começou a planejar movimentos de saúde mental, para 82%, em 2021. “Cada ponto percentual a mais resulta, em média, em um acréscimo de € 90 a € 100 milhões em lucratividade”, assegura.

Na Vittude, que desenvolve programas de saúde mental para empresas, a premissa é “casa de ferreiro, espeto de ferro”. Tatiana Pimenta, CEO e cofundadora da companhia de 60 funcionários, com clientes como Grupo Boticário e Banco do Brasil, diz que sempre apostou em costumes saudáveis. “Comecei a nadar aos três anos”, revela.

Na adolescência, jogou basquete, e nos tempos de faculdade, voltou às piscinas. Por volta dos 30 anos, período de extrema dedicação ao desenvolvimento profissional, teve depressão. Durante o tratamento, foi aconselhada a voltar à atividade física para recuperar sensações de bem-estar. Decidiu fazer caminhadas e correr. “Isso mudou a minha vida para sempre”, diz. “A corrida é, até hoje, uma das minhas grandes fontes de alegria”.

Pimenta faz terapia desde 2012 e, além da corrida de São Silvestre, já participou de provas de rua em Berlim, Chicago, Paris e Buenos Aires. Também pratica ciclismo, meditação e cultiva orquídeas. “A Vittude vende soluções de saúde mental. Seria hipocrisia a gente não cuidar dos próprios funcionários”, diz. Desde a fundação, em 2016, a companhia, além de um programa de saúde integral, subsidia integralmente sessões de terapia – cerca de 70% dos empregados aderiram à prática. “Acredito no papel da liderança de criar hábitos positivos. Tento ser um exemplo e já reuni colegas para correr no Ibirapuera.”

Por Jacilio Saraiva — Valor, de São Paulo

01/08/2022

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