Saiba como identificar o burnout

Saiba como identificar o burnout

Levantamento com base em 3.500 testes aplicados em profissionais no Brasil mostra que um terço apresenta sinais dessa doença relacionada ao trabalho

Por Adriana Fonseca – Jornal Valor Econômico

07/04/2024

Cerca de um terço das 3.500 pessoas avaliadas em um teste que mede a incidência de burnout entre profissionais apresentam sinais da doença.

É o que mostra uma análise feita pela Vetor Editora, especializada em tecnologia para avaliação psicológica e manutenção da saúde mental nas empresas, a pedido do Valor.

A empresa passou a aplicar nas empresas um teste que mede a incidência de burnout nas pessoas cerca de um ano após a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificar o burnout como uma doença do trabalho.

Desde abril de 2023, a Vetor Editora aplicou 3.500 testes – avaliação desenvolvida com base na Escala Brasileira de Burnout (EBBurn). Desse total, um terço das pessoas, independentemente da idade, apresentaram resultados que indicaram sinais de exaustão, estarem sobrecarregadas e com menor disposição para realizar suas funções como anteriormente.

O cansaço ou esgotamento, físico e mental, é bastante indicativo do burnout, que é de onde vem o nome da síndrome, em inglês — Foto: Pexels

Ricardo Mattos, CEO da Vetor Editora, explica que a Escala Brasileira de Burnout pode ser usada por psicólogos que estejam atuando nas empresas para mensurar a saúde mental ou realizar uma avaliação psicossocial. “Também pode ser usada por profissionais que estejam atuando na psicologia clínica ou mesmo em outros ramos da psicologia que necessitem da avaliação deste construto”, diz.

O processo de aplicação é simples e rápido, podendo ser feito individualmente ou em grupo, presencialmente ou on-line, em aproximadamente 15 minutos.

De toda forma, ele pontua que os testes dão indícios de sinais de exaustão, mas o diagnóstico preciso só pode ser feito por um profissional da saúde.

Como perceber os primeiros sinais do burnout em si mesmo?

Guilherme Spadini, psiquiatra e professor na The School of Life Brasil, afirma que muitos dos sintomas de burnout são inespecíficos, similares a quadros de ansiedade, estresse ou depressão, em geral. “Uma particularidade que nos leva a considerar burnout, mais especificamente, é o que chamamos de cinismo ou despersonalização”, explica. “É aquela visão negativa das coisas, que faz o trabalho parecer sem sentido, as pessoas desinteressantes, que contamina a vivência do profissional com o trabalho, o ambiente e os colegas.”

Segundo ele, o cansaço ou esgotamento, físico e mental, também é bastante indicativo do burnout, que é de onde vem o nome da síndrome, em inglês. Outros sintomas comuns são sentimentos de ineficácia, irritabilidade, procrastinação e sintomas físicos como dores de cabeça, dores musculares ou alteração no apetite.

Já a liderança, a que sinais deve ficar atenta em seus funcionários?

“Bom, os sintomas são os mesmos, então os descritos acima continuam relevantes”, diz Spadini. “Talvez, mais especificamente para líderes, é importante observar quedas notáveis no desempenho, mudanças no comportamento social, absenteísmo ou outros indícios de desgaste emocional.”

Como agir caso perceba os primeiros sintomas?

O psiquiatra comenta que o primeiro passo é o reconhecimento. “Admitir que pode haver um problema é, muitas vezes, difícil e requer autoconhecimento”, afirma. “Uma vez admitido o problema, é importante não se fechar para resolver sozinho, mas buscar por apoio.”

Esse apoio pode vir de conversas com colegas, amigos, familiares ou profissionais de saúde mental, que podem oferecer novas perspectivas e estratégias para lidar com a condição. “Existem medidas que podem ser tomadas, como práticas de autocuidado, estabelecimento de limites e até uma reavaliação profissional, mas é fundamental, primeiro, buscar ajuda para fazer isso de forma saudável e produtiva.”

Que tipo de ambiente corporativo pode favorecer o burnout?

“O mais óbvio, claro, é que ambientes tóxicos, com muita cobrança ou competitividade, carga de trabalho excessiva, falta de recursos, são geradores de estresse e burnout”, alerta o professor da The School of Life Brasil. “O que pode não ser tão óbvio é a questão do controle, a sensação, por parte do trabalhador, de falta de controle sobre sua própria atividade.”

Segundo ele, pouca ou nenhuma autonomia sobre o trabalho, incluindo como, quando e onde ele é realizado, junto com uma supervisão excessivamente rígida, é o principal fator isolado relacionado ao burnout.

Que tipo de ambiente corporativo pode favorecer a saúde emocional e mental dos colaboradores?

Para Spadini, um ambiente de trabalho ideal é aquele que promove um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, fomentando uma cultura de comunicação aberta, positiva e transparente. Um local onde se celebram as conquistas e os esforços de todos, ou seja, em que há reconhecimento, tanto individual quanto coletivo.

“A autonomia dos funcionários é incentivada, dando-lhes controle e propriedade sobre suas tarefas e decisões”, exemplifica. “Além disso, o suporte à saúde mental deve ser uma prioridade, com acesso a recursos e programas de bem-estar, programas de desenvolvimento profissional – por meio de treinamentos, mentorias e planos de carreira claros – sob a liderança de gestores que agem como mentores, demonstram empatia e incentivam o crescimento da equipe.”

Por fim, o especialista comenta a importância de haver uma cultura de respeito e inclusão, espaços para inovação e criatividade, um ambiente físico confortável e estimulante.

“Pode parecer conto de fadas, mas investir no ambiente de trabalho e na cultura organizacional, respeitando as necessidades emocionais e mentais dos funcionários, não serve apenas como medida de saúde mental, mas também leva a maior satisfação no trabalho, retenção de talentos e produtividade.”

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