Ciclos da vida: os desafios do cuidado com a saúde da infância à vida adulta

Ciclos da vida: os desafios do cuidado com a saúde da infância à vida adulta

Aumento da expectativa de vida da população joga luz sobre necessidade de cuidados e prevenção desde o nascimento

O ciclo de vida é marcado por uma jornada de experiências únicas e transformadoras, que começam ainda na gestação e prosseguem até os chamados anos dourados da geriatria, e o cuidado com a saúde desde o início é fundamental para garantir qualidade de vida e bem-estar. A forma como nos cuidamos desde a infância pode afetar diretamente a chegada e a permanência na terceira idade.

“Várias doenças do adulto, como as cardiovasculares, começam intraútero. Porém, estudos mostram que apenas 20% dos problemas vêm de fatores genéticos, pois 80% se desenvolvem a partir dos nossos hábitos”, explica Ana Escobar, pediatra e coordenadora da disciplina de Pediatria Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Ela destaca que as bases do organismo e da arquitetura cerebral são formadas nos primeiros mil dias do ser humano, que compreendem o momento da concepção até os dois anos de idade e que, mesmo em caso de doenças genéticas, os protocolos de profilaxia podem garantir qualidade de vida a longo prazo. “Um marcador genético para câncer do pulmão ou para obesidade, por exemplo, pode se manifestar ou não a depender do indivíduo. Por isso insistimos tanto em incentivar o acompanhamento com exames, profilaxia e hábitos saudáveis desde a infância.”

Longevidade

Marlon Aliberti, que atua como geriatra no Hospital das Clínicas de São Paulo, vê diariamente a importância desses cuidados em seus atendimentos. “Houve uma revolução no último século que permitiu às pessoas viverem mais. Porém, vivemos mais acumulando doenças e necessidades de apoio para executar tarefas simples do dia a dia. Precisamos investir não apenas no tempo, mas também na qualidade. E a chave para isso é a prevenção.”

Dados divulgados pelo IBGE em 2022 indicam que os homens nascidos em 2021 podem viver em média 74 anos, enquanto as mulheres, uma média de 81 anos.

Para 2060, a expectativa é de que haja mais idosos do que jovens no Brasil. “Atualmente, pessoas com 60 anos ou mais representam cerca de 14% da nossa população, mas elas ocupam 30% do sistema de saúde. Precisamos fazer com que as pessoas cheguem melhor a essa fase e com menos chance de precisar do sistema”, destaca Aliberti.

Uma das alternativas para fortalecer a prevenção em todas as fases da vida é a melhoria do sistema de atenção básica, mais especificamente a atenção primária, diz Zeliete Linhares Leite Zambon, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. “Apenas 15% a 20% dos atendimentos médicos precisam avançar para o segundo nível. A maioria pode ser solucionada em atendimento primário, que deveria estar intimamente ligado à prevenção de doenças.”

Por isso, a política de saúde da família é tão importante. Pela estrutura pensada para o Brasil, o médico da comunidade deveria cuidar da saúde de cada paciente em todas as etapas da vida e estabelecer medidas de prevenção adequadas a cada região e cultura local. “Olhamos a estrutura do território com todas as questões que influenciam na saúde, desde onde a pessoa trabalha, vive, como está organizada sua família, do pré-natal até a morte com cuidados paliativos”, diz Zeliete.

Hoje o País conta com apenas 11 mil médicos da família e comunidade, quando há demanda para 60 mil profissionais. “O médico da família tem grande importância na medicina preventiva, e por isso há iniciativas junto ao Ministério da Saúde para aumentar esse contingente. Há muito o que melhorar.”

Vacinação em todas as idades

A vacinação continua sendo protocolo indispensável para fortalecer o sistema imunológico. Mas, principalmente em razão da propagação de notícias falsas, essa prevenção está diminuindo, expondo a população a doenças que poderiam ser evitadas. “Há pessoas que pensam que sabem tudo sobre vacina, mas ignoram evidências mundiais que mostram que seus benefícios superam em muito eventuais efeitos colaterais”, destaca a pediatra Ana Escobar.

Renato Lordello, diretor de Negócios com foco em Operações da Drogaria São Paulo, ressalta o papel da imunização dos adultos, para proteger a si mesmo e ajudar na redução da disseminação de doenças, inclusive entre os mais vulneráveis. “Temos que atentar para as vacinas de rotina, como a da gripe, e para as sazonais, que nos ajudam a proteger durante surtos de doenças específicas, como vimos com a covid-19.”

Fonte: ESTADÃO SAÚDE

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